sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Por um mundo com mais hippies, baderneiros e vagabundos!



Educação é a chave para tudo!
Ao meio dia assistimos uma reportagem mostrando o estado calamitoso que se encontram as escolas estaduais, totalmente insalubres, inseguras, inadequadas para receberem crianças e adolescentes.

A noite, assistimos reportagens sobre ônibus sendo incendiados, falta de segurança e uma total inoperância das forças públicas em tomarem atitudes que resolvam a situação.
As duas coisas estão intimamente ligadas. A reportagem da noite é consequência direta da reportagem do meio dia. Mas vivemos reféns de um governo que sucateia a educação e finge que está tudo bem com a segurança, não assume a responsabilidade por nada, apenas aceita passivo os infortúnios a que a população está passando. E a passividade se incorpora na nossa cultura como um ranço, uma sujeira que de tão impregnada, nos enche de preguiça de esfregarmos com força, talvez doa, mas estar limpo é necessário, é o mínimo.

Por que falo isso no meu blogue de paternidade?
Por que para ser o pai que a Clara merece, preciso melhorar o cidadão que tenho sido. Eu a trouxe a esse mundo, tenho a obrigação de melhorá-lo de alguma forma.

Acontece que a nossa cultura da passividade, critica e condena qualquer movimento que se oponha ao status quo da pasmaceira em que vivemos.
Nossa cultura passiva que aceita quieta quando o governador aparece sorrindo dizendo que está tudo sob controle, logo após o repórter noticiar o centésimo atentado terrorista em quinze dias, é a mesma que propaga a cirurgia cesariana como uma maneira normal de se nascer.

Não é.
A aceitação acomodada destas duas falácias, advém da nossa passividade em não nos educarmos a respeito de tudo o que está acontecendo de grave ao nosso redor, e fingimos que é assim mesmo que tem que ser, pois mudar dá muito trabalho.

Nada está sob controle, nada está tranquilo, toque de recolher do transporte público não é normal, tanto quanto bisturis e intervenções de toda sorte(ou seria azar?) também não são a maneira ideal de se trazer uma criança ao mundo.
Por que misturei as coisas?

Por que me dei conta que as mesmas pessoas que chamavam de vagabundos e baderneiros os estudantes que se mobilizaram, tiraram suas bundas das cadeiras e foram às ruas reivindicar um bem para toda a coletividade, combatendo as abusivas políticas de preço das empresas de transporte público na grande Florianópolis, são as mesmas que hoje me chamam de hippie e alienado pela minha defesa do parto natural e humanizado.
O cerne dos dois problemas é o mesmo: EDUCAÇÃO!

Não nos instruímos a respeito, não fomos ensinados a refletir e a ponderar. Aprendemos simplesmente a aceitar o que se tem estabelecido como senso comum e ponto final. Não é assim que deve ser. Devemos pensar, devemos questionar, devemos dizer, contradizer, devemos agir.
Os interesses única e exclusivamente econômicos fizeram a grande maioria da população acreditar que uma intervenção cirúrgica é melhor do que algo natural. O médico que te sugere marcar a cirurgia cesariana, não está preocupado com o seu bem estar, está preocupado com ele, com o próprio bolso, única e exclusivamente com seus interesses pessoais. A cirurgia cesariana só é melhor do que um parto natural em duas situações:

1 – Para o médico que está cagando e andando para o fato de que aquele é um momento da mãe, do pai e da criança, e pensa apenas na sua comodidade e no ganho financeiro em escala;
2 – Quando um dos dois reais protagonistas, mãe ou bebê, correm alguma espécie de risco.

Mas nos disseram outra coisa.
Disseram para a mamãe que ela pode escolher o signo e até o ascendente do seu bebê, veja só que coisa boa, basta ela agendar a data do nascimento.

Ninguém falou que se a criança nascer com data e hora marcada, ela está nascendo prematura. Não disseram que a última etapa do desenvolvimento do aparelho respiratório da criança é exatamente o nascimento, e antecipar o momento em que ambos os corpos – mãe e filho – determinariam como correto, vai ocasionar naquela criança uma probabilidade infinitamente maior de desenvolver uma série de problemas respiratórios do que uma criança nascida naturalmente.
Disseram que gravidez planejada envolve também o planejamento do parto, a mãe pode escolher o dia do nascimento da vovó para a nova netinha, ou o pai pode coincidir o nascimento do filho com o aniversário do seu time do coração. Que legal!

Ninguém falou que através de uma intervenção cirúrgica agendada, a mãe vai ter muito mais dificuldade de amamentar. Ninguém falou que o corpo da mãe está maturando junto com o da criança, e que a ocitocina liberada na hora do parto será uma das grandes responsáveis pela produção do leite, liberará a prolactina para que a mãe possa iniciar de uma maneira mais tranquila e menos dolorosa, o lindo gesto da amamentação.
Ao invés de alertarem a mãe que uma cirurgia cesariana vai dificultar bastante o início da amamentação, disseram que o hospital oferece um ótimo leite em pó para o bebê.

Disseram que parto normal dói e que a cesariana é ótima, a mulher não sente nada.
Ninguém falou que a maior parte da dor está ligada a relatos de mulheres que sofreram inúmeras violências obstétricas, intervenções desnecessárias, sofreram muito com isso e foram convencidas de que aquilo era parto normal. Ninguém falou que não precisa ser assim.

Ninguém falou que cesariana é uma cirurgia, e como tal, traz consigo um alto risco de contaminação, de infecção hospitalar.

Hoje, seis meses depois de ter engravidado, fico com pena quando ouço alguém dizer que vai se submeter a uma cesariana eletiva. Por vários motivos.

Por que não tiveram acesso às informações que estou tendo.
Por que médicos gananciosos, inescrupulosos e obsoletos as convenceram de que aquele é o melhor caminho.

Por que aceitaram passivos o que lhes foi passado por senso comum, sem questionar, sem averiguar, sem observar com empatia o outro lado da moeda.
E talvez alguém que esteja aí lendo e que defenda a cirurgia cesariana, esteja pensando que eu não estou sendo empático para tentar entender os motivos desta opção.

Pelo contrário, eu não só exercitei o me colocar no lugar do outro, como eu estive no outro lugar.
Até engravidarmos, nem no meu pior pesadelo cogitaria um parto natural. Defendia a cirurgia cesariana e ponto final.

Mas, ao engravidar, veio a necessidade de me instruir a respeito de tudo o que cercaria a chegada da minha filha, e nisso, eu me eduquei. A Priscilla teve a generosidade de me pegar pela mão e me conduzir num mundo que eu não fazia ideia que existia, me ensinou, me mostrou através de livros, textos, artigos, pessoas, profissionais, o quão equivocada era a minha concepção de nascimento.
E sim, hoje, me tornei um “hippie chato alternativo” para muitas pessoas.

Tanto quanto há alguns anos, aqueles que ainda hoje são rotulados de baderneiros e vagabundos por muita gente, garantiram a estas mesmas gentes o direito de transitarem de ônibus pelas ruas e avenidas da nossa cidade com um valor de tarifa bem menor do que aquele que pretendiam praticar  a prefeitura e empresas de transporte público.
Precisamos nos instruir, precisamos nos educar.

Assim, na hora de votar saberemos fazer nossas escolhas de maneira mais acertada.
Opções de gestores públicos melhores do que as que hoje temos, hão de surgir se todos nos educarmos mais e melhor.

Parecem assuntos totalmente distantes um do outro, mas não são tão longínquos assim, ambos caem no erro pela passividade e falta de educação.
Não se permita deitar no conforto da passividade. Se instrua, leia, busque, se informe.

O que está prestes a acontecer na sua vida não é uma coisa qualquer, é o seu filho que vai chegar. A maneira como você vai recebê-lo, fará uma grande diferença na vida dele desde o primeiro momento fora da barriga da mamãe.
Nascer é algo muito mais bonito do que um médico que segura numa das mãos o bisturi, e na outra ergue o seu filho de cabeça para baixo, segurando-o pelos pezinhos. Seu filho não é um pedaço de carne qualquer, não é uma paleta, um coxão mole, uma alcatra. Ele é seu filho, preserve isso.

Unamo-nos, hippies, alienados, baderneiros e vagabundos, no fim das contas, somos nós que mudaremos o mundo para melhor.
Botemos o nosso bloco na rua!

"Para mudar o mundo, é preciso mudar a forma de nascer"
Michel Odent

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